A graduação continua sendo um diferencial quando o assunto é se colocar no mercado de trabalho. De acordo com o índice ABMES/Symplicity de Empregabilidade 2023 (IASE), entre julho de 2020 e junho de 2021, aproximadamente 75% dos egressos do ensino superior foram empregados em até um ano após a colação de grau e mais de 83% deles atuam em sua área de formação. Um aumento considerável em relação ao ano anterior, em que apenas 69% conseguiram trabalho logo após se formarem e 70% encontraram oportunidade na área.
A pesquisa avaliou a colocação no mercado de trabalho de mais de 4,8 mil alunos de instituições de ensino superior brasileiras formados durante o período mais crítico da pandemia. “Os dados se referem a todas as carreiras e a quase todas as regiões do Brasil. Este resultado é um estímulo para quem quer investir no futuro. É um bom momento para os jovens retornarem ao ensino superior”, explica Celso Niskier, diretor presidente da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES).
Niskier ressalta que o cenário otimista deve-se à retomada econômica pós-pandemia. Um indicativo disso é que não apenas a empregabilidade melhorou, mas o salário médio de profissionais graduados aumentou em 9% em relação ao ano passado, passando de cerca de R$ 3.800 para R$ 4.200.
Patrícia Paniquar, líder de transição de carreira da consultoria LHH, concorda que a melhor maneira de alavancar a carreira e se introduzir no mercado de trabalho segue sendo através do ensino superior. “O Brasil vem mudando aos poucos neste quesito, mas esta ainda é a melhor maneira de se profissionalizar.” A consultora explica que, para além da formação que oferecem, faculdades e universidades possuem várias parcerias com empresas que auxiliam seus alunos a se introduzirem no mercado de trabalho.
Carreiras promissoras
Profissionais dos cursos de tecnologia da informação (TI) estão entre os mais bem remunerados do país, com salários cerca de 50% acima da média do país, em torno de R$ 5.200. O setor emprega profissionais como desenvolvedores, engenheiros de software, analistas de dados, engenheiros de dados, desenvolvedores mobile, entre outros. A área lidera também os índices de empregabilidade: 81,5% dos egressos declaram estar trabalhando e o cenário deve seguir favorável, de acordo com as amostras realizadas nos últimos anos.
O campo das engenharias também aparece como destaque na pesquisa, com quase 80% dos graduados inseridos no mercado de trabalho. A profissão registrou, inclusive, um aumento de 4% no índice de empregabilidade desde a última pesquisa. Egressos de cursos de engenharias recebem cerca de R$ 4.500.
Raquel Reis, 30 anos, conhece de perto as duas realidades. Formada em Engenharia Elétrica pela Universidade de Brasília (UnB), começou a carreira como analista de engenharia no setor de manutenção e obras, mas acabou migrando para a área de TI. Ela conta que a transição de carreira aconteceu de maneira natural, motivada pela necessidade de automatizar suas tarefas do dia a dia, quando começou a estudar sobre ciência de dados.
“Fazer faculdade de engenharia me ajudou a ter uma transição mais suave para TI, até por ter feito algumas matérias da faculdade junto com o pessoal da computação. Mais tarde, fiz uma pós-graduação em ciência de dados. Acredito que nos próximos anos a tendência do mercado de TI é ficar cada vez mais competitivo, e a graduação na área pode ser, sim, um critério de seleção, principalmente para vagas com maior nível de senioridade”, fala.
A engenheira trabalhou para empresas nacionais e estrangeiras como analista de dados e afirma que “no geral, a TI paga melhor. Por outro lado, o mercado de TI é muito mais volátil que o de engenharia, porque as mudanças ocorrem numa velocidade superior. Depois da experiência adquirida, a engenharia tem mais segurança”.
Paniquar salienta que setores como estes, ligados à tecnologia, tendem a se manter atrativos a longo prazo. “Com as mudanças da tecnologia e do mundo, algumas áreas que vão perder espaço, mas ao mesmo tempo isso cria novas oportunidades para as pessoas se profissionalizarem”, afirma.
Desigualdade de gênero, raça e faixa etária
Pela primeira vez, o IASE 2023 explorou dados de gênero, raça e idade. No geral, os homens levam vantagem na empregabilidade (82,2%), em relação às mulheres (74,1%). A renda do sexo masculino também se mostra superior, visto que os homens recebem, em média, 40% a mais que as mulheres. Comparando raças, pessoas brancas possuem um índice maior de empregabilidade (81%) e com maior renda média em relação aos demais. A maior disparidade está entre pessoas pretas, em que a remuneração média é de R$ 3.200, valor 30% menor que o salário de profissionais brancos.
“Infelizmente, notamos nessa pesquisa uma desigualdade na contratação dos jovens por raça e gênero. São questões estruturais e históricas que devem ser resolvidas através de políticas públicas que promovam a maior inserção desses grupos econômicos desfavorecidos no mundo do trabalho” afirma o diretor da pesquisa.
Modalidade de curso
A pesquisa demonstrou que a diferença de empregabilidade e salário entre cursos presenciais e à distância (EAD) não é tão significativa quanto no passado. A disparidade entre ex-alunos que cursaram a modalidade presencial e estão trabalhando para aqueles que fizeram cursos de educação à distância é de apenas 6%. Sobre salários, enquanto alunos do modelo tradicional apresentaram uma média salarial de R$ 4.200, os alunos da modalidade EAD recebem em média R$ 3.900.
Cursos tradicionais
A área de saúde, tradicionalmente tida como uma carreira promissora, aparece em quarto na lista de cursos com maior renda média, cerca de R$ 4600, atrás de TI, engenharias e humanidades, que teve um baixo números de respondentes na pesquisa. O curso também está no topo quando se trata de empregabilidade, com 76% de egressos trabalhando, e cerca de 94% desses trabalhando na área.
Este foi o caso de Lucas Cristiano, 23 anos, que se formou em educação física pela Universidade de Brasília (UnB) e conseguiu um emprego logo após a conclusão do curso em uma academia renomada na cidade. “Estou extremamente satisfeito com a profissão e o salário que recebo. Concluir o curso valeu cada batalha na minha vida, escolhi educação física desde o ensino médio e não mudaria nada”.
Para Isabela de Araujo, 24 anos, porém, a experiência foi outra. Ela é formada em farmácia pela Universidade de Brasília (UnB) e demorou seis meses para que conseguisse seu primeiro emprego na área de saúde, porém como auxiliar de suprimentos em um hospital. Seu objetivo é migrar de setor e trabalhar como farmacêutica. “Me inscrevi em várias vagas e inclusive fiz entrevistas, porém só recebia retorno negativo, quando recebia. Foi difícil encontrar minha primeira oportunidade”. Apesar disso, Isabela considera que cursar o ensino superior ajudou-a se inserir no mercado de trabalho e que, mesmo não sendo obrigatório para muitas carreiras, seu diploma de graduação pode ter sido um fator decisivo na hora da contratação.
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